segunda-feira, 15 de setembro de 2008

DRAGÃO CHINÊS - O PODER DA INDÚSTRIA

O escritor Luis Fernando Veríssimo (do qual sou fã de carteirinha) costuma dizer que a China, daqui a alguns anos, tornará o resto do mundo supérfluo. Dadas as atuais características de seu crescimento econômico, não duvido.
A economia da República Popular da China é hoje a quarta maior do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Japão e Alemanha. Mas, sabemos, não tardará a ultrapassá-los todos. Com um PIB de aproximadamente US$ 2,3 trilhões, a China é responsável por 14% das riquezas globais e cresce a taxas bastante superiores à média do planeta. Isso tudo é possível graças à política de desenvolvimento industrial a partir das Zonas Econômicas Especiais (ZEE’s), criadas a partir dos anos 1970, onde o capital estatal encontra-se aliado ao capital privado estrangeiro para a produção. As ZEE’s são ilhas de prosperidade econômica que se aproveitam de uma localização privilegiada (zonas portuárias) e de mão-de-obra abundante e barata com o objetivo de produzir bens de consumo de massa para o mercado externo, principalmente.
Em tais condições, a China tornou-se o maior consumidor mundial de cimento, ferro, aço, carvão mineral, estanho, cobre e chumbo, dentre outros insumos. Além disso, também consome produtos industrializados, tais como carros de luxo e aviões (é um dos maiores mercados da Embraer, por exemplo). Entretanto, esse desenvolvimento tem um custo...
Como visto anteriormente, os índices de degradação ambiental em território chinês são dos mais altos do planeta. O ritmo de crescimento é feito à revelia dos princípios básicos de gestão ambiental. Ademais, a exploração da mão-de-obra nas indústrias levaria seus responsáveis à prisão, em qualquer outro lugar do mundo. Mas o governo chinês fecha os olhos para o problema. Tudo em nome do crescimento econômico.
Lembro de ter assistido a um documentário na tv, sobre as condições de trabalho numa fábrica em Pequim, alguns dias antes do início dos Jogos Olímpicos. O filme retratava o dia-a-dia numa unidade de produção de calças jeans, com foco especial em seu proprietário e também em duas jovens trabalhadoras. Enquanto o proprietário reclamava reiteradamente de suas funcionárias, dizendo que “exigem coisas absurdas, cujo atendimento levaria o negócio à falência”, as câmeras mostravam o alucinante ritmo de trabalho das meninas, e as punições a que eram submetidas quando não conseguiam alcançar sua meta. Ao final do filme, uma mensagem que dizia algo mais ou menos assim: “Enquanto você assistia a essas imagens, durante uma hora, as duas funcionárias da fábrica produziram 24 calças jeans. Por este trabalho, receberão o equivalente a US$ 0,30”. Esse é o preço do crescimento da economia chinesa.

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