terça-feira, 5 de agosto de 2008

PELO VINHO E PELO PÃO - A nova escalada mundial dos preços dos alimentos (2).

Continuando, apresento mais alguns fatores que contribuem para a elevação dos preços de produtos agropastoris e, como um todo, para a disparada dos índices de inflação aqui e em outras terras:

2. Políticas restritivas à circulação de mercadorias em países desenvolvidos.

Os países desenvolvidos (leia-se União Européia, Canadá, EUA e Japão) impõem pesadas políticas restritivas à circulação de produtos agropastoris em seus mercados, bem como para incentivar a exportação de bens primários processados, através de subsídios e mecanismos protecionistas.
Tudo bem, toda economia necessita promover o bem estar de seus produtores, protegendo o mercado interno e incentivando o comércio externo. Mas os países desenvolvidos abusam deste direito.
Os custos de mão-de-obra, tecnologia e da própria terra, nestes países, tornam os preços dos produtos agrícolas proibitivos. Assim, para tornar os produtos acessíveis à população, seus governos utilizam-se de políticas de financiamento da produção, sob a forma de subsídios. Os custos de produção nos países não desenvolvidos são muito menores, o que tornaria impossível a prática das atividades do setor primário nos países centrais. Portanto, seus agricultores e pecuaristas dedicam-se exclusivamente à produção de commodities de alto valor, tais como os cereais e a carne bovina, além de produtos beneficiados, como os laticínios.
Não obstante, a política comercial das nações mais ricas visa, também, criar barreiras à entrada de produtos vindos de outras partes do mundo – notadamente da parcela mais pobre do planeta – através de políticas alfandegárias que criam mecanismos protecionistas de mercado. Assim, o algodão africano e o suco de laranja brasileiro, por exemplo, pagam altas tarifas de importação para entrar no mercado europeu ou norte-americano. Além disso, devemos lembrar que tais produtos apresentam baixo valor agregado, ou seja, são vendidos in natura e, portanto, têm valor comercial mais baixo que o mesmo produto depois de beneficiado. Mais um ponto a desequilibrar a balança comercial a favor dos mais ricos.

3. Programas equivocados de biocombustíveis.

O programa de produção de álcool estadunidense é baseado no cultivo de milho, enquanto que, na Europa, o álcool é extraído principalmente da beterraba e da batata. Devido a características diversas, tais como o custo da mão-de-obra, da tecnologia empregada no cultivo e da terra a ser utilizada, além dos custos de produtividade gerados pela influência do clima, esses sistemas produtivos, que apóiam os programas norte-americano e europeu de biocombustíveis, são exponencialmente mais elevados que os custos de produção brasileiros. Há que se considerar, também, o fator biológico, ou seja, o potencial incrivelmente maior de produção de álcool a partir da cana-de-açúcar, em detrimento do milho, batata ou beterraba.
Associando todos os fatores aqui descritos às políticas de subsídios e de criação de barreiras, temos um cenário desfavorável à produção e comercialização de alimentos para todos, gerando, assim, uma parcela da inflação presente.

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