segunda-feira, 11 de julho de 2011

ESPERANDO PELA PROVIDÊNCIA DIVINA


Há seis meses a região serrana do estado do Rio de Janeiro começava a se deparar com o que seria a maior tragédia de sua história. Uma torrencial tempestade destruiu cidades e vidas, principalmente nos municípios de Nova Friburgo e Teresópolis.
Muitos corpos ainda não foram encontrados, centenas de famílias continuam sem suas casas, em meio à precariedade. Vários imóveis foram interditados e alguns lugares simplesmente ainda enfrentam o desabastecimento de energia e água. Por outro lado, são mais fortes os ecos das acusações de desvio dos recursos destinados aos desabrigados, desde roubos de donativos a superfaturamento de serviços contratados.
Estava em Friburgo no dia 10 de janeiro, e saí da cidade por volta das 15h. Ao anoitecer, a chuva começou a cair. Na manhã de terça-feira, dia 11, me encaminhava para o Aeroporto Santos Dumont, com destino a Brasília, sem saber da fatalidade que se abatera sobre a região serrana. Lembro que alguns voos foram transferidos para o Galeão devido ao mau tempo, mas não fazia a menor ideia do que havia ocorrido perto da minha casa. Somente ao chegar ao hotel em Brasília comecei a tomar conhecimento dos fatos, principalmente através da TV e por amigos que ligavam para saber como eu estava.
Não sei precisar a data, mas passei mais de um mês sem voltar a Friburgo. Não somente por conta das condições das estradas, mas também por tristeza. Perdi amigos, e sabia que as cenas impactantes vistas de longe seriam bem mais cruéis ao vivo. Somente no começo de junho estive em Bom Jardim, e novamente me assustei com a paisagem arrasada ao longo da estrada. O pouco que vi nestes meses atesta que muito pouco foi feito na região. Embora saiba que este incidente teve proporções colossais, percebo que o problema não é “o tamanho do desastre”, mas a inércia do poder público.
Hoje, em plena Avenida Alberto Braune, no centro de Friburgo, recebi um panfleto – distribuído pelo Fórum Sindical e Popular de Nova Friburgo – conclamando a um ato público em protesto ao descaso a que os cidadãos atingidos pela catástrofe. Segundo o texto, “cerca de 2400 pessoas que se cadastraram para o aluguel social nada receberam até agora”.
Os organizadores do protesto reivindicam, dentre outras coisas, o aluguel social para todos os desabrigados e desalojados, o início imediato da construção das casas, o não deslocamento das pessoas de seus bairros e a reconstrução dos bairros atingidos.
Julgo que a maior parte da pauta de reivindicações não possa ser atendida. Em termos técnicos, é impossível restabelecer as condições de moradia de todos os atingidos pelas chuvas e, ao mesmo tempo, mantê-los em seus bairros de origem. Até porque muitos deles estavam em áreas de risco (e o que não é área de risco na região serrana???) e as áreas seguras podem não estar disponíveis. Nem por isso os governos municipal, estadual e federal têm o direito de tratar esses cidadãos com o total descaso demonstrado até agora.

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