segunda-feira, 2 de março de 2009

RIO DE JANEIRO


Apesar de todos os problemas típicos de uma grande cidade, o Rio de Janeiro completou ontem mais um aniversário ostentando rara beleza. A despeito dos maus tratos sofridos nas últimas décadas pela classe política que aqui aportou (alguns “estrangeiros” mesmo), o bom humor e a camaradagem do carioca foram um bálsamo a curar as feridas expostas da cidade.
Não, não se trata de um paraíso na terra, embora quase todo carioca pense assim. Há uma série de problemas – alguns talvez insolúveis – a acompanhar nosso dia-a-dia e a nos lembrar que, como diz a Fernanda Abreu, o Rio é mesmo a “cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”. Ainda assim, aprendemos a contornar o que não tem conserto e a fazer deste um bom lugar de se viver, principal destino turístico do Brasil, sonho de consumo de moradia de gente que vem dos quatro cantos do mundo.

A cidade forja sua beleza a partir de uma peculiar harmonia entre o natural e o construído, entre o simples e o luxuoso, entre a ordem e a desordem. É claro que ainda há muito a ser feito, mas esta não é a cidade mais violenta do país, apesar das “balas perdidas”, como querem crer alguns, nem é este um povo preguiçoso, que só quer saber de praia. Aliás, o IBGE já demonstrou várias vezes que o carioca trabalha mais que o paulistano... rsrs
Desde Santa Cruz até a Praça XV, o Rio de Janeiro apresenta singularidades que fazem deste um lugar único, “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como diz o carioquíssimo Jorge Ben. Cidade do samba de roda, do chorinho, dos grandes shows (quem não se lembra do Rock in Rio ou do Sinatra no Maracanã?), do futebol na rua, das praias lotadas nos finais de semana... e também dos atos cívicos, do megacomício pelas Diretas, da solidariedade. É a mesma cidade das enchentes, dos hospitais lotados, do trânsito caótico, das filas nos bancos, do crescente medo de atravessar túneis. Uma cidade que cobra seu preço, mas recompensa quem a trata bem. Não à toa, mesmo quase 50 anos depois de ter perdido a condição de capital do país – e com isso, um conseqüente esvaziamento econômico – o Rio ainda é o destino preferido pelos executivos estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil.
E, sinceramente, sem querer arranjar briga com meus amigos de outras cidades, não dá pra discutir e comparar a beleza e o prazer de morar na Cidade Maravilhosa. Lembro de um comandante da Transbrasil que, ao se aproximar do Santos Dumont, pedia licença à torre e dava uma volta pela Baía da Guanabara. Ia até Niterói e voltava mostrando aos passageiros, todo orgulhoso, a paisagem. Era invariavelmente aplaudido durante todo o “passeio extra” que fazíamos.
É claro que o Brasil não é só o Rio de Janeiro. Belezas há por toda a parte. Mas nada se compara à sensação de gritar “Gol!” num Maracanã lotado, em tomar um chope com um bolinho de bacalhau em qualquer boteco, em ver as garotas de Ipanema e de tantos outros bairros a caminho do mar. Porque, ao final das contas, ser carioca, antes de tudo, é um estado de espírito.
E, pra terminar essa declaração de amor, deixo aqui a letra de um samba do Salgueiro, a escola que mais cantou as belezas desta cidade. Composto pelo meu amigo Mauro Torrão, foi apresentado no desfile de 1981.
Obrigado, Rio de Janeiro! O aniversário é seu, mas o presente é nosso. De todos os cariocas de coração, espalhados por todo o mundo. Parabéns pelos seus 444 anos!

RIO DE JANEIRO

(Buguinho, Henrique Filho e Mauro Torrão)

Só você
Enche minh'alma de alegria e prazer,
Dá ao sol o mais sublime amanhecer,
Quero lhe abraçar e desejar
Muitos anos de existência.
Oh! Meu Rio de Janeiro,
Mar aberto sob o sol,
Como é belo o seu arrebol!
Quando Estácio de Sá aqui chegou,
Em plena natureza com heroísmo lhe berçou.
Oh! Bela, formosa, eterna capital
Do povo carioca tão legal

Lar doce lar que o senhor abençoou,
Enchendo o Rio... de amor

E a nobreza lhe abraçou
Na colônia, na Coroa Imperial,
E logo a República chegou,
Sempre encantando o seu porte natural.
Num turbilhão de luz e cor,
A boêmia e o alegre carnaval,
Mulatas, poesias e humor,
Faz sua vida tão arteira e cultural.

Quem pode, pode, se sacode, explode,
Se sacode, explode no jogo ô...
Quem pode, pode, veste a fantasia
Ou é só folia o ano todo.

Um comentário:

Bel disse...

Apesar de não ser carioca, sou daquele tipo que ama o Rio. Podem falar o que quiserem, mas minhas experiências na cidade sempre foram maravilhosas.
E não é somente pela beleza natural, não. Existe algo mais, que mexe dentro de mim, não sei se é a música, o clima, as pessoas... mas seja o que for, é bom demais!

Parabéns pro Rio e pra você que tem a felicidade de viver aí. ;)