sexta-feira, 27 de março de 2009

ACIRRANDO AS DIFERENÇAS


A julgar pelo que ouvi ontem, no rádio e televisão, temos um potencial vencedor do Prêmio Nobel de Medicina para o ano que vem. E o agraciado será o Exmo. Sr. Presidente da República Federativa do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, que desenvolveu surpreendente estudo que correlaciona o perfil genético do ser humano e suas tendências econômicas.
Depois das teorias do médico italiano Cesare Lombroso, que julgava ser possível associar certas características físicas à psicopatologia criminal (Lombroso acreditava que os delinqüentes apresentavam uma dimensão anormal da calota craniana, molares proeminentes, orelhas grandes, etc.), Lula assevera que a culpa da crise é dos “homens de pele branca e olhos azuis”. Disse isso em pleno encontro com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, sob o olhar atento de vários jornalistas daqui e de diversas outras partes do mundo.
Poucas vezes ouvi tamanha idiotice de um homem público, que volta e meia se esquece de seu papel e faz discursos como se estivesse discutindo futebol num boteco (lugar, aliás, que mais lhe apraz do que a Presidência). Mais do que isso, incomoda-me perceber o constante prazer que parece lhe tomar sempre que tem a oportunidade de fazer comentários que possam desagregar a sociedade. Lula parece ter gosto especial em jogar uns contra os outros.
Sempre fomos reconhecidos como um país de formação multicultural, miscigenado, sincrético. Temos nossas falhas, é verdade, a desigualdade ainda nos domina. Mas nunca tivemos um discurso social tão segregador quanto vejo agora. Bem, é claro que não vou comparar nossa sociedade com aquela que habitava a Terra Brasilis há dois séculos ou mais. Mas devemos lembrar que discriminação há em todas as sociedades, inclusive entre os indígenas citados por Lula no mesmo discurso, ontem.
Talvez seja mais fácil ao (des)governo criar uma política de cotas do que melhorar de verdade o ensino público. Talvez seja mais interessante insistir na transposição de um rio que está morrendo do que atacar os feudos do coronelismo no nordeste. E talvez seja mais rentável garantir seus votos – e da “base aliada” – através da esmola dos programas oficiais, do que baixar a taxa de juros e estimular a economia. Mas chegar a ponto de tentar promover a discórdia, e achar que seu “efeito teflon” é inabalável, é um pouco demais. É hora de assumir sua parcela de responsabilidade – a que cabe ao dirigente de um país, para tentar minimizar por aqui os efeitos da crise. E tentar aprender o real significado do conceito de nação.

Atualização de sábado (e nem tão atual assim): Depois da defesa do Boris Casoy, li na coluna do Noblat um post a favor do presidente, de que sua fala não teve conotação racista, e que era endereçada ao público interno. Então tá. Mas o presidente precisa lembrar que não estamos mais no início da década de 70, em que um telefonema interurbano levava horas para ser completado. A informação corre praticamente à velocidade da luz, hoje em dia. Ademais, como dito aqui, o presidente estava recebendo um chefe de governo estrangeiro, em visita oficial. Há que se pensar antes de falar. Por isso, discordo (que ousadia!) de Ricardo Noblat e Boris Casoy.

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