sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

OS LIMITES DA DEMOCRACIA


Em dez anos no poder como presidente na Venezuela, Hugo Chávez triunfou em 14 das 15 eleições internas. A razão para tanto êxito pode ser encontrada claramente na opção daquele governante em adotar políticas que privilegiem o desenvolvimento social em um país que parece sofrer da “maldição do ouro negro”.
Diz-se que as sociedades de países que detêm importantes jazidas de petróleo tendem a passar por um calvário de miséria, e que tal riqueza só beneficiaria outros povos. Licença poética à parte, já que Noruega e Rússia são países exportadores de petróleo mas nem de longe passaram por problemas semelhantes (os problemas do povo russo são de outra ordem), o óleo venezuelano nunca significou, até então, um “passaporte para o desenvolvimento” para sua sociedade. Pelo contrário, talvez tenha sido a principal razão de seu atraso econômico.
Ainda no século XIX a Venezuela assinou um acordo com os EUA garantindo o acesso a bens de consumo industrializados norte-americanos em troca do óleo venezuelano. Com isso, facilitava-se o escoamento da produção mineral em detrimento do desenvolvimento da indústria local. Enquanto isso, do lado de cá, a indústria local também perdia sua condição de viabilidade em função de outro “ouro negro”: o café.
Assim como no México, outro grande produtor de óleo cru, a sociedade venezuelana não era beneficiada pela comercialização da maior riqueza nacional. Como sói acontecer em países subdesenvolvidos, os lucros eram distribuídos apenas entre membros da elite local, e pouco ou nada contribuíam para diminuir a pobreza da maior parcela da população. O acesso ao saneamento básico, alimentação, educação, saúde e previdência era um sonho inatingível para a massa venezuelana. E é aí que entra Hugo Chávez.
Ao ascender ao poder, Chávez rompe com o modelo econômico-social de até então, permitindo à população o amplo acesso aos benefícios por décadas negados, através da reorientação da aplicação dos lucros da PDVSA, a Petrobras de lá. A promoção social do povo venezuelano não se verifica somente na ampliação dos índices de acesso à água potável, esgoto e educação (segundo a Unesco, o índice de analfabetismo é zero), mas também pela expansão do mercado interno de consumo. Nada mais capitalista, portanto.
Entretanto, ainda me preocupa a forma como Chávez conduz sua “revolução bolivariana”. Por mais que entenda necessária sua presença à frente do processo que rompeu com a corrupção e permitiu a inserção das camadas menos favorecidas da sociedade na discussão sobre a construção de um modelo solidário de nação, temo pelo que a possibilidade de seguidas reeleições pode vir a causar. Espero, sinceramente, que Chávez não se veja como “o grande timoneiro” ou “líder supremo” de seu povo. Nada mais saudável a uma sociedade que a liberdade política, o que pressupõe, dentre outras coisas, a rotatividade no poder. Tudo o que uma nação não precisa é de alguém com arroubos messiânicos.

2 comentários:

Kenia Mello disse...

Eu não acredito numa sociedade capitaneada por um líder que tolha a liberdade de expressão do povo. Digo povo no sentido da parcela da população e dos seus representantes legais que lhe fazem oposição.

Na minha modesta opinião, Chávez é um caudilho e a sua reeleição ad eternum é uma das provas disso.

Marcelo Acha disse...

Realmente, Chávez extrapola os limites do bom senso, de vez em quando. Não quero justificar um erro com outro, mas seu surgimento só foi possível em virtude do passado de miséria do povo venezuelano. Não busco aqui defender ninguém, procurei apenas analisar os fatos e tentar entender o "fenômeno Chávez". Até porque é inegável que a maioria dos pobres está do lado dele, o que é normal em governos populistas. E, infelizmente, com possibilidade de permanecer no poder ad eternum, como você disse.