quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A EVOLUÇÃO DA IGUALDADE


Um artigo publicado na Folha de São Paulo domingo passado, dia 08, chamou minha atenção. Darwin e a escravidão, escrito pelo físico, astrônomo e escritor Marcelo Gleiser, traz nova luz sobre a principal obra do cientista inglês às vésperas das comemorações pelo bicentenário de seu nascimento – o que ocorrerá amanhã, dia 12. Como parte das celebrações foi lançado nos EUA um livro que sustenta um ponto de vista diferenciado e bastante interessante sobre as razões do naturalista para desenvolver sua teoria da evolução.
Gleiser diz em seu artigo que, em A Missão Sagrada de Darwin (Darwin's Secret Cause) [1], “Adrian Desmond e James Moore argumentam que foi a repugnância moral de Darwin à escravidão que o motivou a levar adiante suas idéias”. Segundo os autores, o cientista inglês, durante sua passagem pelo Brasil a bordo do navio HMS Beagle, travou contato direto com os horrores da escravidão.
Em um trecho do livro trazido por Gleiser, “certo dia, quando passava de canoa por um mangue, Darwin ouviu um grito terrível. O doloroso episódio ficou gravado na sua memória. ‘Até hoje’, escreveu o naturalista em seu jornal mais tarde, ‘quando ouço um grito à distância, revivo com enorme intensidade o que senti quando, ao passar perto de uma casa em Pernambuco, ouvi gemidos terríveis, certamente vindos de um escravo sendo torturado e, tal qual uma criança, não pude fazer nada’.”
Como tantos outros pensadores, Darwin teve sua teoria diversas vezes distorcida, em função da necessidade de adaptá-la ao uso das elites dominantes de ocasião. Sua maior contribuição à ciência certamente foi a teoria da evolução das espécies, retratada principalmente no livro A origem das espécies e alvo de preconceituosas interpretações ao longo do tempo. A mais comum é o mito de que “o homem descende do macaco”. Darwin nunca disse isso. Na verdade, o que incomodava – e ainda incomoda – certa parcela da sociedade é ter que admitir que brancos e negros têm um mesmo ancestral. O parentesco sanguíneo envolvendo todos os humanos é inaceitável para alguns, mesmo em pleno século XXI. Entretanto, para evitar o viés racista na negação à sua teoria, foi mais fácil apontar outro “erro mortal” do cientista: defender a existência de um mecanismo puramente biológico capaz de explicar a origem e a diversidade de todas as formas de vida.

[1]
Tradução feita pelo autor.

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