sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ÂNSIA DE VÔMITO (III)


Ainda na semana passada, quando comecei a pensar os textos postados aqui para estas segunda, quarta e sexta-feira, havia estabelecido mentalmente a seguinte divisão: na segunda falaria sobre as eleições para o Congresso Nacional (ok, isto já foi feito), na quarta usaria o espaço para falar da prostituição infantil (o que também já fiz) e na sexta-feira – isto é, hoje – abordaria o caso Cesare Battisti, até para atender a alguns e-mails que recebi. Entretanto, alguns outros assuntos passaram igualmente a me preocupar, no transcorrer da semana. Abordarei en passant tais tópicos, mas sei que poderia usar outras tantas semanas para cuidar de cada um deles.
Aproveito a oportunidade para dizer que não sou contra o governo Lula em si, as críticas que faço também caberiam a qualquer outro (des)governo deste país. Penso que é meu dever – como cidadão, educador e pai – discutir tais assuntos, e apontar aquilo que vejo como irregularidades. E, sempre que possível, apontar caminhos para a resolução dos problemas.
Primeiro, recebi com preocupação e surpresa a notícia dos cortes feitos ao orçamento pelo governo federal. Preocupei-me porque sei que saúde, educação e C&T são invariavelmente os setores mais atingidos por tais cortes. Preocupa também o fato de que esses são os pilares do processo de desenvolvimento para qualquer nação. A surpresa vem do fato de que a notícia vem de encontro ao discurso presidencial, no qual o aumento dos gastos é apontado como a melhor saída para a crise.
Entretanto, logo no dia seguinte, o anúncio da alteração dos requisitos para o Bolsa Família fez-me ver o outro lado da moeda. Ao que parece, os cortes no orçamento foram pensados para aumentar a quantidade de recursos para o programa que é a menina dos olhos do atual governo. Então tá.
Associado a isso está um outro polêmico (na minha visão, e você pode ou não concordar com isso) programa do atual governo: o PAC. Jocosamente denominado Programa de Alavancagem da Companheira, dado seu uso político, o PAC ganhou verba extra esta semana. Mais alguns bilhões de reais para o financiamento de obras, das quais ainda vimos muito pouco.
Pausa para o café (e eu odeio café): Não é de hoje que os políticos se utilizam do poder para proselitismo. Lula não é o primeiro nem será o último a se valer de práticas populistas. Mas é interessante ver como as coisas acontecem neste país. Desde o escândalo do mensalão – e em diversas outras ocasiões – o presidente adotou o discurso do “eu não sabia” ou do “isso não é comigo”. O efeito teflon parece realmente funcionar, prova disso é o impressionante índice de 84% de aprovação de seu governo. Ao mesmo tempo, é preocupante, pois um governante assim pode achar que tudo lhe é possível, que não há limites para seus atos, pois estaria ungido pelo povo. Com isso, tenta beneficiar sua candidata (será mesmo?), usando politicamente o poder que lhe foi entregue pelo povo duas vezes. Mais ainda, anunciou para breve a publicação de uma coluna permanente em jornais (a azia deve estar passando) para proclamar seus feitos. E, nesta semana, foi publicado um encarte de 10 páginas na revista Foreign Affairs que, dentre outras coisas, apresenta a ministra Dilma como candidata situacionista à presidência em 2010. Resta saber quem pagou por tal publicação. Enquanto isso, o TSE dorme um sono profundo...
Voltando, outros dois assuntos me incomodam, no meio dessa prosa. Gostaria de saber quem foi que pagou as passagens e hospedagem para que a Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva, para ir ao café da manhã com o presidente dos EUA. Nem vou entrar em detalhes, tais como o política e ecologicamente incorreto casaco de peles que ela usou, ou o fato de que um café com 3500 outras pessoas é o mesmo que um café com ninguém (tanta gente assim reunida pra comer me faz lembrar os restaurantes do Garotinho, outro profundo conhecedor das práticas populistas). Só quero saber quem financiou a viagem.
Também me intriga o desenrolar da história do nobre deputado Edmar Moreira, de Minas Gerais. Aliás, nobre mesmo, pois descobriu-se que é dono de um castelo avaliado em US$ 25 milhões, aproximadamente. Eleito segundo vice-presidente e corregedor da Câmara dos Deputados, Moreira é acusado de sonegar impostos devidos por suas empresas (principalmente contribuições trabalhistas) e de dar calote no Banco do Brasil (por empréstimos contraídos por seus empreendimentos). Ao ser indicado corregedor, disse que deseja que os casos de processos de parlamentares por quebra de decoro passem a ser julgados pelo Judiciário, pois "o espírito de fraternidade entre os colegas" impede o julgamento justo. Deve ter sido por isso que votou sistematicamente pela absolvição de todos os deputados implicados no escândalo do mensalão.

Por hoje basta, a semana foi cheia.

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