quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

ÂNSIA DE VÔMITO (II)


Na semana passada, enquanto os telejornais da Globo insistiam em notícias do Corinthians e das eleições para o Congresso Nacional, a Record e o SBT mostravam, respectivamente, matérias especiais sobre o tráfico de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai e sobre prostituição infantil.
Fiquei particularmente tocado pelo que vi no SBT. Não que a prostituição infantil seja exatamente uma novidade, mas é sempre chocante. E, ao que parece, assumiu ares de atividade institucionalizada lá pelos lados do Vale do Jequitinhonha.
A pobreza daquela região, que apresenta IDH mais baixo que o da Bolívia – país mais pobre da América do Sul – “facilitou” a entrada das crianças (meninas e meninos, sem distinção) neste trágico circuito. Levadas pelos pais, já aos 10, 11 anos, vendem o corpo por até R$ 0,50, para ajudar no orçamento doméstico.
É óbvio que tal aberração não é exclusividade do Jequitinhonha. Infelizmente, diversas outras localidades passam pelo mesmo problema. Sociedades estagnadas, economias em colapso, níveis abissais de educação, saúde pública a zero... todos esses fatores contribuindo para levar mais e mais jovens à prostituição e/ou ao tráfico de drogas. Mas há quem entre nesse circuito pelas próprias pernas. Prova disso é o número crescente de jovens de classes média e alta envolvidos com a criminalidade. Para esses, não é a falta de perspectiva que os leva ao tráfico ou à prostituição. Talvez o contrário. O excesso de facilidades e a leniência na formação familiar podem ser apontados como as principais causas de tais condutas.
Mas, voltando ao foco da série de reportagens do SBT, lembrei-me do meu estado do Rio de Janeiro. A segunda maior economia do país apresenta problemas semelhantes. A começar pelo noroeste fluminense, cujo desempenho econômico já foi comparado ao Vale do Jequitinhonha. Lá também é possível “comprar” uma criança por R$ 5,00 ou menos, por algumas horas. Da mesma forma, a zona portuária de Angra dos Reis é notória área de prostituição infantil em nosso estado. Ali, meninas de 18, 19 anos são tratadas pelas mais novas como “tias”, e são rejeitadas pelos “clientes” por serem velhas demais.
O problema se repete na Cidade Maravilhosa. O Trevo das Margaridas, entroncamento entre a Avenida Brasil e a Rodovia Presidente Dutra, também é famoso ponto da prostituição infantil, alimentado pelo fluxo de caminhões que abastecem permanentemente o CEASA, em Irajá, bem perto dali. Mais uma vez vemos meninas que nunca souberam o que é infância trocando seus corpos por cachos de banana, sanduíches ou pés de alface.
Tais assuntos chocam, eu sei, mas parece não afetar sobremaneira os homens públicos. Afinal, o relato da miséria não é matéria nova, não trago aqui um “furo de reportagem”. Nada do que foi escrito aqui é novidade, mas o cenário é o mesmo por décadas. Talvez porque as “autoridades” estejam muito ocupadas resolvendo problemas mais importantes, salvando seus filhos de acusações injustas, tais como queimar índio em praça pública, dirigir bêbado e atropelar (e matar) avó e neta na calçada, ou vender passaportes em branco e contrabandear pedras preciosas. Enfim, que cada um cuide de seus problemas...

Sexta-feira eu termino.

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