segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ÂNSIA DE VÔMITO (I)


Tô arretado, no linguajar do nordestino. Vou chutar o pau da barraca, como dizem os paulistas. Ou, em bom carioquês, to p... mesmo!
Há muito vejo coisas neste país que fariam Ali Babá e seus 40 amigos chorarem de vergonha. De vez em quando, “perco a linha” e “solto o verbo” em sala de aula. Meus alunos são, na maioria, bem mais novos que eu, ainda pouco viram, pouco conhecem da nossa história. Mas eu não. E, ao contrário do que dizem, brasileiro tem memória, sim. E é em nome dessa memória que junto alguns pedacinhos de nosso passado não tão remoto para finalmente escrever esse post (apesar de ter essa vontade faz tempo).
Creio que três motivos principais me levam a isso, e exporei cada um deles durante minhas anotações desta semana. Vamos começar pelo fato mais recente, a eleição para presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, hoje, em Brasília. Como todos sabem, as duas eleições foram ganhas por parlamentares do PMDB – Michel Temer na Câmara, José Sarney no Senado. E o que isso significa?
Há implicações históricas e imediatas neste contexto. Vamos a elas, resumidamente.
Pra começar, o PMDB é herdeiro do MDB, um dos dois únicos partidos políticos da era ditatorial de nosso país, de triste memória. Por força do AI-5, que extinguiu os partidos políticos, todos os matizes da oposição se reuniram no Movimento Democrático Brasileiro (o outro partido era a ARENA, situacionista). Daí uma herança nefasta: o PMDB de hoje é esse saco de gatos que conhecemos, capaz de abrigar, ao mesmo tempo, políticos como Pedro Simon e Renan Calheiros. Isso sem contar o próprio Sarney, que era da ARENA e hoje é um dos principais caciques do maior partido do país.
Pequeno aparte: acho muita graça quando os comentaristas políticos se referem ao PSDB como um partido “em cima do muro”. Logo me lembro do PMDB e penso: se os tucanos estão em cima do muro, os peemedebistas são o próprio muro! Afinal, que outro partido conseguiu ser situação sempre, desde sua criação? Foi governo com Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula. Imbatível. Hay gobierno? Soy a favor!!!
Justamente por causa dessa “presteza em servir à nação” o PMDB está invariavelmente ligado aos maiores escândalos políticos (e criminais, por vezes) desta nação. São tantos exemplos que eu precisaria de um outro blog pra listar tudo...
Voltando à eleição do Congresso, quais seriam as implicações imediatas? Há algumas. Por exemplo, até então era praxe não haver um mesmo partido detendo as duas presidências simultaneamente. Simples assim: se o partido A tem a presidência do Senado, não pode tê-la na Câmara na mesma legislatura. Não era lei, mas um acordo de cavalheiros, tácito. Entretanto, a regra foi finalmente quebrada, e não só pelo PMDB. Afinal, o partido não teria votos para, sozinho, conseguir tal intento. Agradeça, portanto, ao presidente Lula que, na ânsia de confirmar o apoio dos peemedebistas para a campanha de Dilma, apoiou a candidatura de Sarney, mesmo tendo que trair seu companheiro de partido e amigo pessoal, o senador Tião Viana.
Lula parece ter colocado uma corda em volta do pescoço de seu partido, e outra em torno de seu próprio. Afinal, como gostam de dizer os políticos, o PMDB é uma dama exigente, de gostos caros. Se perdesse, cobraria alto do governo para continuar a fazer parte da situação. Já que ganhou, cobrará ainda mais, para justificar seu status de "dona" do Congresso.
Por outro lado, Viana perdeu votos por fazer uma campanha de moralização do Senado. Prometia enxugar a máquina, cortar cargos comissionados e acabar com a farra das notas fiscais frias utilizadas nas planilhas de reembolso. Com tal discurso, atraiu o PSDB. Mas por causa disso mesmo, perdeu. Não há interesse em mudar coisa alguma por lá. Noves fora, Viana é atualmente alvo preferencial do ódio de Renan Calheiros, eminência parda (ou seria encardida?) do Senado.
E a Câmara? Bem, além do fato de que os presidentes das duas casas controlam o fluxo das votações de interesse (ou não) do governo (principalmente a votação das MP’s), é preciso lembrar que, na ausência do presidente e do vice (há rumores de que Lula tente um mandato de senador, nas próximas eleições, e, como todos sabem, a condição de saúde de José Alencar é delicada), o primeiro na lista para assumir a Presidência da República seria Michel Temer.
Eis, portanto, um breve quadro da política nacional. Sem esquecer que o líder do PMDB no Senado é o honestíssimo Renan Calheiros. Alguém aí tem um Plasil? Tô sentindo aquele enjoo de novo...

Quarta-feira tem mais.

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