UM GOLIAS SEM DAVID

OBS: Este post não seria possível sem a inestimável e precisa ajuda do meu amigo Carlão.

A outrora toda-poderosa Microsoft informou semana passada uma drástica queda em seu lucro líquido no trimestre out-dez 2008. Segundo a companhia, o lucro recuou 11%, em comparação ao mesmo período de 2007, para US$ 4,17 bilhões. Com a notícia, suas ações despencaram 11,71% na Bolsa de Nova York, para o menor patamar desde janeiro de 1998, durante o pregão do dia 22.
Para amenizar suas perdas, a (ainda) maior fornecedora global de softwares anunciou que vai demitir 5.000 funcionários nos próximos 18 meses – cerca de 5% da força de trabalho. Por causa desta situação, a distribuição de debêntures para seus acionistas será sensivelmente reduzida, apesar do aumento de 2% na receita total da empresa para o trimestre, para US$ 16,63 bilhões.
O problema é que, mesmo com o crescimento nas vendas de licenças corporativas em 15%, o faturamento da divisão de clientes diminuiu 8%, o que atesta falhas no combate à pirataria e, principalmente, o avanço na adoção de softwares livres. Mais ainda, o baixo custo – e portanto, menor margem de lucro – dos aplicativos para o crescente mercado de dispositivos móveis (onde o Windows Mobile não tem presença marcante e, mesmo que tivesse, não significaria grandes somas) diminui a expectativa de bons rendimentos à empresa de Redmond.
Boa parte deste fracasso é uma crônica de morte anunciada: a ganância da Microsoft é a principal responsável por seu próprio declínio. O alto custo das licenças de seus sistemas operacionais e aplicativos ao consumidor doméstico em países não desenvolvidos fez, num determinado momento, proliferar o mercado pirata para as diversas versões do Windows e do Office [1]. Numa visão míope e arrogante, Bill Gates acreditava que seu kit de ferramentas (Windows/Office/navegador) seria insubstituível e, mesmo assim, tentou impor o Internet Explorer a seus usuários (o Office é vendido à parte). Como resultado, a condenação – e pesadas multas – em diversas ações judiciais movidas contra a empresa [2].
Posteriormente, perdeu ainda mais espaço com o desenvolvimento dos softwares livres, onde se destacam a plataforma Linux e suas variações. Com os inúmeros desdobramentos das possibilidades web, perdeu também mercado para os rivais Google (pesquisa), Apple (entretenimento) e Mozilla (navegador Firefox). Além disso, há que se considerar o retumbante fracasso de seu tocador de MP3 – o Zune. E, por falar em fracasso, o que dizer do Windows Vista? A cada dia que passa a Microsoft tem o "poder" de fazer um sistema operacional pior que o outro, e é óbvio que o mercado rejeitou o Vista.
Mas, sinceramente, isso me parece mais uma estratégia de mercado. Afinal, o que seria dos lucros dessas empresas se os sistemas operacionais da Microsoft fossem estáveis, à prova de bugs e pouco vulneráveis a vírus? É preciso criar a necessidade da inovação, do avanço tecnológico. Assim, cria-se um novo sistema que demanda uma quantidade cada vez maior de memória e de processador para rodar, e componentes de hardware que só entregam máxima performance ao usuário quando operados pelo sistema mais recente. E, com isso, teremos máquinas com processadores de núcleos múltiplos e vários pentes de memória RAM, associados a discos rígidos gigantescos, para... acessar a internet e rodar editores de texto. Ao final, eu e você pagamos essa conta e ajudamos a engordar os cofres da Microsoft, da Intel, da AMD...

[1] Há quem diga que essa possa ter sido (mais) uma jogada da própria Microsoft, de “deixar rolar” o uso indevido de seus produtos e, assim, criar dependência dos usuários aos mesmos. Posteriormente, a empresa desenvolveu atualizações de sistema que incluem “subprogramas” que notificam o usuário de que sua cópia é ilegal e, posteriormente, travam o computador, à revelia do usuário.
[2] Ainda hoje, mesmo depois de tantas derrotas judiciais sofridas pela empresa de Redmond ao redor do mundo, é impossível desinstalar o Internet Explorer ou o Outlook de uma máquina. O sistema simplesmente trava!