sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

CONFUSO HORÁRIO


Como diria o Barão de Itararé, de onde menos se espera é que não sai nada, mesmo. Assim, que outra coisa poderíamos esperar do Senado senão um monte de idiotices? Hmmm... pensando bem, acho que os idiotas não são os que lá estão, mas os que os elegem. Afinal, a cada manobra do legislativo brasileiro me convenço mais e mais de que suas excelências não são nada bobos. Conforme o grande filósofo Bezerra da Silva, malandro é malandro, mané é mané.
O mais novo exemplo de toda essa “esperteza” é o Projeto de Lei (PLS) nº 486, que unifica a hora em todo o território nacional, apresentado à Casa em 17/12/2008 pelo senador da República Arthur Virgílio (PSDB-AM).
Segundo o nobre parlamentar, em sua justificativa, tal alteração se faz necessária em virtude da necessidade de integração econômica e cultural do território, pois “atualmente, apenas os Estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Roraima, têm a defasagem de uma hora em relação a Brasília”. Ou seja, atualmente somente 40,47% do país encontram-se em horário diferente de Brasília (não considerando a porção insular do território brasileiro, como, por exemplo, Fernando de Noronha)!!! Coisa pouca... [1]

Continuando o jogo de erros, o texto do PLS atesta:

“Nessas unidades da federação a diferença horária causa os mais variados transtornos na relação com os outros estados e o Distrito Federal, tais como: 1) obstáculo à maior integração do espaço econômico nacional; 2) prejuízo de grande monta à integração econômica das populações e atividades realizadas na porção mais ocidental da área continental brasileira; 3) deficiente integração dos centros comerciais e industriais de Manaus, Rio Branco, Cuiabá, Campo Grande, Porto Velho e Boa Vista nos negócios realizados nas praças do Centro-Sul do país; 4) enorme descompasso no ritmo vertiginoso de progresso nas comunicações e nos transportes.
A adoção de fuso horário único em todo o território nacional ainda mais se justifica ante a unificação e informatização do sistema financeiro, o desenvolvimento dos transportes aéreos e das comunicações via satélite e beneficiará consideravelmente as populações residentes nas regiões orientais do país, levando-as a ter participação plena na vida econômica, política e cultural dos centros desenvolvidos do Sul e do Sudeste. Será, portanto, uma das condições indispensáveis para que a sociedade brasileira possa vencer os desníveis econômicos e sociais que ainda dividem o país em regiões ricas e regiões pobres”.

Na contramão do mundo, o nobre senador entende que o avanço tecnológico significa maior afastamento entre as pessoas e entre os lugares, e não o contrário. Na verdade, Virgílio torna-se mais um congressista a advogar publicamente por causa defendida pelas grandes redes nacionais de televisão. Desde que entraram em vigor as regras para a classificação indicativa de programas de TV, que exigem a adequação da programação ao horário local, as emissoras cerraram fileiras contra as diferenças de horário entre as regiões. O senador amazonense é também autor do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) nº 91/2007, que susta a Portaria nº 264, de 9 de fevereiro de 2007, do Ministério da Justiça, que dispõe sobre o processo de classificação indicativa de obras audiovisuais destinadas à televisão e congêneres. Santa coincidência, Batman!
Aliás, em abril de 2008, dias após a portaria que institui a classificação indicativa entrar em vigor, o Congresso Nacional aprovou projeto do senador Tião Viana (PT-AC) que mudou a hora local de estados do Norte. A nova lei aboliu o fuso horário de menos duas horas em relação à Brasília, que até então valia para o Acre e a parte ocidental do Amazonas. O mesmo projeto também unificou o horário do Pará com o de Brasília. Antes, o oeste paraense seguia o horário de Manaus (menos uma hora em relação ao Distrito Federal). Interessante ver como uma simples portaria seria capaz de causar razoáveis estragos nos interesses comerciais das emissoras de televisão, notadamente a Globo, e fez os nobres parlamentares repentinamente se tornarem interessadíssimos na divisão de fusos horários do país. Mas dizer que o horário na serra do Divisor (Contamana) no Acre deva ser o mesmo da ponta do Seixas, na Paraíba, a mais de 4.300 km de distância, é exagero. Ou serei obrigado a acreditar que os nobres parlamentares tiveram péssimos professores de Geografia!

[1] O território nacional abrange uma área de 8.514.876,599 km². Os estados que têm oficialmente uma hora a menos em relação a Brasília – AC, AM, MS, MT, RO e RR – perfazem 3.445.685,085 km², ou 40,47% do total.

2 comentários:

Tucha disse...

Realmente o Barão de Itararé se divertiria com tamanha sandice. Revogar o fuso horário! Como se isto fosse resolver a questão das diferenças economicas que nos dividem.

Marcelo Acha disse...

Bem, resolve a questão econômica da Rede Globo, que assim só precisaria manter uma única grade de programação para todo o país! hehehehehehe