sexta-feira, 28 de novembro de 2008

CRÔNICA DE VÁRIAS MORTES ANUNCIADAS


Ligo o rádio ou a tv, abro o jornal ou me conecto a algum site de notícias, e o foco principal da imprensa é a tragédia que vem se abatendo sobre Santa Catarina. Noves fora o usual sensacionalismo da mídia, que se convence cada vez mais de que o caminho para a audiência e o lucro é a exploração da desgraça alheia (ultrapassando várias vezes a tênue linha da ética na informação), a veiculação das notícias tem também o papel de catalisar a solidariedade do brasileiro. Além da ajuda oficial, várias pessoas se articulam em ações com o objetivo de minimizar o sofrimento dos catarinenses, vítimas de mais um desastre natural.
Bem, natural até que ponto? E quem são as verdadeiras vítimas e os algozes desses desastres?
Não é preciso ser geógrafo, engenheiro ou geólogo para saber que a ocupação de encostas deve atender a vários critérios (bastante rígidos, por sinal) no sentido de prevenir acidentes como os vistos nos últimos dias. E, no caso desta região afetada - sobretudo o Vale do Itajaí - não estamos falando propriamente de ocupações irregulares de baixa renda, como vemos nos morros da cidade do Rio de Janeiro. Também os imóveis de alto padrão foram atingidos pelas chuvas e suas conseqüências. Os "deslizamentos de encostas" não escolhem caminho ou alvo, afetando indistintamente a todos.
Caberia, portanto, ao poder público regular tais ocupações, não somente no que diz respeito às normas de engenharia, mas principalmente sobre a conservação da cobertura vegetal, principal responsável por evitar ou retardar os processos de solifluxão. Não podemos aceitar esse processo irregular de ocupação de áreas de risco - dentro ou fora do perímetro urbano - e depois culpar a natureza porque "mandou chuva demais". Aliás, a concentração da pluviosidade é outro problema agravado pelo homem... mas isso fica pra uma outra conversa.
Entretanto, devemos considerar que a ocupação irregular de áreas urbanas é também um problema social. Tem a ver com emprego, educação, miséria... não é tão fácil resolver assim. Não dá simplesmente pra falar que as pessoas têm que ser removidas de onde estão. É necessário que haja infra-estrutura compatível pra isso.

A propósito, esse assunto me faz lembrar duas outras coisas: primeiro, há mais de uma semana chove quase sem parar no estado do Rio de Janeiro. Espero que a região serrana tenha um bom Natal, sem problemas. Segundo, por causa dessas chuvas que insistem em cair em solo fluminense, o município de Rio Bonito atravessa problema semelhante ao dos catarinenses. São mais de 1200 desabrigados, e o município não dispõe de unidade do Corpo de Bombeiros. Mas, como não aparece na tv, o governador do estado preferiu mandar o helicóptero com ajuda pro Vale do Itajaí...

Um comentário:

Raphael Saldanha disse...

Olá Marcelo!

Pis é... mas, pelo menos, estamos vendo nossos irmãos do sul um pouco mais patrióticos agora, lembrando que também são brasileiros, e pedindo ajuda aos "preguiçosos" e "malandros"...