quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O MITO DA NATUREZA INTOCADA (1)


O modelo que originou as primeiras unidades de conservação em todo o mundo estava baseado em um pressuposto que expressa clara separação entre os aspectos naturais e os sócio-históricos, isto é, uma divisão do conhecimento científico, iniciada no século XIX, que entende sociedade e natureza como pólos excludentes e não contempla os fenômenos sob uma ótica sócio-ambiental, por vezes causada por processos sócio-históricos. Assim, presenciamos a apropriação da natureza pelo Estado segundo um padrão de uso do espaço em que as relações entre homem e meio se resumem ao uso indiscriminado dos recursos disponíveis e que, portanto, justificaria o estabelecimento de áreas protegidas a partir do uso indireto.
As unidades oficiais de conservação da natureza, por serem bens públicos, devem ser administradas de forma a escapar das externalidades geradas pelos conflitos entre usos de ordem comum e interesses privados. Ao mesmo tempo, devem ser capazes de traduzir uma relação de equilíbrio entre um contexto natural (fisiográfico) e fatores de origem social.
Os aspectos restritivos de manejo (procedimento que visa assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas) das unidades de uso indireto não são suficientes para garantir a preservação dos recursos, enquanto que a presença de grupos tradicionais, por apresentarem uma dinâmica diferenciada de relações com a natureza, segundo formas de apropriação comunal dos espaços e dos recursos naturais, pode auxiliar na conservação dos mesmos.

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