quinta-feira, 7 de agosto de 2008

PELO VINHO E PELO PÃO - A nova escalada mundial dos preços dos alimentos (4).


Terminando a saga, apresento hoje mais alguns fatores que levam à elevação dos preços dos produtos agropastoris em todo o mundo. Evitei entrar em detalhes a respeito das discussões recentes (ou melhor, que se arrastam há algum tempo) na OMC, o que pretendo fazer em breve, aqui e em sala de aula. Então, vamos às considerações finais:

6. Desvalorização do dólar.

A desvalorização da moeda norte-americana, que ainda é referencial para o comércio internacional, tem duas implicações imediatas. Em primeiro lugar, significa dimiuição do poder aquisitivo do consumidor estadunidense, o que provoca relativa desestabilização no mercado internacional de trocas. Além disso, há um aumento da especulação sobre as commodities agrícolas, contribuindo para a elevação dos preços destes produtos.
O fraco desempenho da moeda norte-americana pode ser também uma justificativa para os que defendem, naquele país, a manutenção dos elevados subsídios à agricultura, mais um sinal de desequilíbrio nas trocas internacionais.

7. Subaproveitamento de áreas agricultáveis.

Há ainda grandes áreas agricultáveis no planeta, sobretudo na África. Entretanto, políticas equivocadas de desenvolvimento levam à exploração covarde e ao subaproveitamento destas mesmas áreas. A Etiópia, um dos países mais pobres do mundo, é grande produtora de... amendoim! E essa produção, obviamente, não se destina ao mercado interno, mas para abastecer o mercado de manteiga de amendoim (argh!) nos EUA. Da mesma forma, em outros países africanos vemos as melhores terras sendo destinadas aos cultivos de exportação, no melhor estilo da velha plantation, enquanto a população local literalmente morre de fome.

8. Concentração fundiária.

A concentração de terras nas mãos de poucos leva à elevação do preço da terra e, por conseguinte, também dos preços dos produtos. Além disto, é responsável pelo crescente processo de êxodo rural, de conseqüências sociais graves. Precisa explicar mais???

Conseqüências...

As maiores implicações econômicas da alta internacional dos preços dos alimentos e da elevação das taxas de inflação ao redor do mundo são majoritariamente sociais. Ou seja, há um maior impacto sobre a população de baixa renda, em relação a todo o mercado consumidor. Aqui no Brasil estima-se que a parcela da população que tem renda entre 1 e 2,5 salários mínimos tem comprometidos aproximadamente 40% da sua renda com alimentação. É, portanto, a parcela mais prejudicada com os aumentos excessivos – e por vezes, especulativos – dos preços. Mais ainda, há uma espécie de “efeito cascata” no mercado, e todos os outros setores da economia acabam por ser afetados (uns mais, outros menos) pelo monstro da inflação.

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