quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A INVEJA É UMA M...


“Eu não tenho inveja da Noruega porque tem petróleo, porque tem tecnologia. Eu tenho inveja da Noruega porque eles têm uma renda per capita de US$ 76 mil. Queira Deus que tenha mais pré-sal para que a nossa renda per capita também possa crescer”.

O texto acima é parte do discurso proferido hoje pelo presidente Lula, em que anunciou a intenção de que parte dos lucros advindos da exploração do petróleo na camada pré-sal do litoral brasileiro devam servir para “reparar erros históricos com os mais pobres deste país”. Até aí, tudo bem. Afinal, o que se espera de um governo é um uso consciente e socialmente justo dos recursos advindos da arrecadação de impostos. Mas algumas coisas preocupam na fala do presidente. Primeiro, por dizer-se invejoso da condição de outro país, o que é triste, para não usar outro termo. Até porque, se compararmos as riquezas naturais e a diversidade de paisagens entre os dois países, acho que os noruegueses têm mais motivos para sentir inveja do que nós. Então, onde está o problema?
Bem, segundo o presidente, também não é a tecnologia, mas a renda per capita. Mais uma vez, os noruegueses agradecem. Segundo o FMI, sua renda é de US$ 55 mil, o que significa que o presidente Lula lhes deu um aumento de quase 50% em sua riqueza. Será o primeiro efeito das riquezas do pré-sal?
Costumo dizer aos alunos, nas aulas de estatística, o óbvio: a média é somente uma média. Ou seja, tem pouca representatividade da realidade. Segundo o mesmo FMI, nossa renda per capita aproxima-se dos US$ 12 mil. Mas quantos efetivamente ganham todo esse dinheiro em nosso país? Muito poucos. O que significa, portanto, que o problema tem outro nome: distribuição de renda.
Não adianta aumentar a renda per capita de uma sociedade se nem todos participam da festa do desenvolvimento. É preciso que os benefícios do aumento da riqueza cheguem a todos. Assim, querer que parte da riqueza do pré-sal seja revertida em benefício da parcela mais pobre da população é um gesto nobre. Mas, partindo do presidente da República, não é mais do que obrigação.

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